É simplesmente racional concluirmos que o pensamento tradicionalista e a ideologia progressista são claros e completos opostos, certo? Bem, na verdade, se analisarmos a fundo, o tradicionalismo e o progressismo apresentam uma curiosa relação de simetria. Como assim?
O quadro mental que, tanto os tradicionalistas, como os progressistas, pintam da história e da evolução das sociedades assenta numa lógica muito similar. O que sucede é que essa lógica segue em direções distintas para os dois grupos. Passemos a explicar.
Para os tradicionalistas, aquilo que é bom na humanidade foi deixado para trás, no início do caminho. Para os progressistas, é a derradeira meta, o ponto final no percurso. Para os primeiros, as sociedades afundam-se cada vez mais e de forma irreversível. Para os últimos, a realidade é cada vez mais radiosa e promissora à medida que avançamos.
Ironicamente, a visão que uma grande parte dos elementos de qualquer um dos dois grupos alimenta sobre o mundo é marcadamente irrealista e passiva.
Os tradicionalistas focam-se em enaltecer e mitificar uma era de ouro da civilização humana à qual nunca mais poderemos retornar. Esforçam-se por sublinhar que a decadência do mundo atual se deve ao abandono dos valores tradicionais e que qualquer ação prática para melhorar a conjuntura dos tempos é inútil e infrutífera.
Quanto aos progressistas, o seu fascínio pela marcha constante da humanidade rumo ao progresso faz com que, muitas vezes, nutram uma perspetiva demasiado confiante e otimista no que toca ao futuro. Essa visão previne-os de empreender esforços reais que contribuam para a resolução dos problemas que inegavelmente ocorrem no momento.
Então, qual é a posição correta? Será que há uma? É necessário encontrar qual o ponto mais benéfico no espetro entre o tradicionalismo e o progressismo. Mas, como o exemplo dos dois grupos ajuda a entender, mais do que refletir e idealizar, é preciso agir de acordo e não se deixar deslumbrar por visões demasiado vincadas do mundo.