O Juramento de Hipócrates é um juramento solene realizado pelos médicos, no qual juram desempenhar a atividade de medicina de forma honesta e tendo sempre como base o mais profundo respeito para com a vida.
O texto original, escrito em 1771 por Hipócrates, pioneiro da medicina ocidental, ou por um dos seus alunos, foi adaptado, em 1948, numa versão ratificada pela Declaração de Genebra da Associação Médica Mundial.
Atualizações à versão de 1948 foram aprovadas em 1968, 1983 e 2017. O objetivo das diferentes versões é que o Juramento Hipocrático se alinhe com a forma como a atividade médica é inevitavelmente influenciada pelas realidades sociais e científicas de cada contexto temporal.
Ao longo das décadas, as revisões à Declaração de Genebra, conduziram a que, nos tempos correntes, o conteúdo do texto do juramento seja consideravelmente diferente do original. Ainda assim, os princípios morais do Juramento de Hipócrates mantêm-se.
Ou será que se mantêm? Vários críticos afirmam que as diversas alterações ao texto de 1771 acabaram por eliminar do juramento e, subsequentemente, da própria medicina, os preceitos basilares expostos por Hipócrates, os quais foram assentes numa consideração da vida como algo sagrado e de extremo valor.
E é aqui que entra a questão do aborto. A versão clássica do Juramento Hipocrático contém as seguintes considerações. O médico usará todo a sua habilidade na aplicação dos tratamentos e nunca causará dano ao paciente.
O juramento passa depois a citar dois exemplos concretos. O médico nunca dará qualquer veneno ou droga mortífera a alguém, mesmo que a pessoa solicite que assim seja. E também nunca concederá a uma mulher os meios para proceder à interrupção da gravidez pelo aborto.
No panorama social, científico, político e legislativo em que vivemos é fácil prever que a disposição quanto ao aborto já não faz parte do juramento para a prática médica.
Ainda assim, muitos médicos, e não só aqueles que se dizem religiosos, continuam a afirmar que a sua consciência moral baseada na salvaguarda da vida é ferida pela prática do aborto.